Finalistas 2019 - Crónicas de uma mãe atrapalhada
Hoje conversámos com uma das finalistas do Sapos do Ano, na categoria Família, a Flora. Ela é autora do blog Crónicas de uma mãe atrapalhada.
- Conta-nos como foi o nascimento do teu blog. Se calhar vão ficar admirados se vos disser que o meu blog nasceu a 16 de julho de 2007, pois. Na altura o meu marido fã da vida de casados sabendo que eu gostava de escrever e espicaçou-me para criar um blogue. Já tinha tido alguns, mas tinha acabado de desistir por falta de tempo. Mas pensei que seria uma boa forma de voltar a escrever e tentar ter uma certa disciplina na escrita. Inicialmente pensei fazer um sobre livros, mas a Bá tinha dois anos e absorvia grande parte do meu tempo. E porque não escrever sobre o que eu mais amava na vida: aminha filha. E foi assim que nasceu. Entretanto depois do Gonçalo nascer, fui tendo menos tempo. Um dia acabei por perder a senha que tive que mudar por questões de segurança. Embora ainda não tenha desistido de recuperar, ia escrevendo num grupo que tenho no Facebook. Um dia estava a reler com a Bá as tropelias dela em pequena e ela quis um blogue a quatro mãos. A ideia seria ela escrevia e eu de vez em quando participava, um pouco por preguiça e por perfeccionismo dela, acabou por funcionar ao contrário: eu escrevo e de vez em quando ela participa, mas a ideia é ser o espaço dela. Foi assim que nasceu o Crónicas de Uma Filha Atrapalhada. Era o meu regresso e o da Bá aos Blogues desta vez a quatro mãos. Como aquele era o espaço dela e eu sentia que queria continuar a nossa história e não queria invadir o espaço dela com o irmão, criei então aquele considero a 2ª parte do meu blogue o atual Crónicas de uma mãe atrapalhada, que desta vez dá o protagonismo ao irmão, mas também à dinâmica da nossa família com uma criança especial e com os desafios que ela apresenta.
- Como tem sido a interacção com outros bloggers? Surpreendentemente boa. Sentia um pouco a falta desta interação dos blogues, de um sentimento de comunidade que só gera aqui nos blogues. Já não tinha quase cá ninguém dos bloggers com quem interagia. Uns tinham privatizado os blogues e tinha-lhes perdido o rumo. Alguns como C. dos Olhares azuis que esteve grávida da quarta filha dela ao mesmo tempo que eu do Gonçalo ainda consegui retomar o contacto. Outros simplesmente tinham deixado de escrever. Embora mantenha contacto com muitos no Facebook. Eu agora era uma completa desconhecida nos blogues. E foi bom ver que aos poucos fui sendo bem aceite pelos outros bloggers e estou a adorar conhecer esta nova comunidade de Bloggers. Até já adotei uma sobrinha desconhecida….
- Fiz grandes amizades aqui em 2007 e foi mesmo a saudade desta interação, deste sentimento de comunidade que me fez regressar.
- O que achas que leva as pessoas a gostarem do teu blog e a seguirem-te? Oh pá, lá vêm vocês com perguntas difíceis. Honestamente não sei, mas, eu sou uma pessoa terra a terra, tento escrever com simplicidade, tento que aquilo que escrevo possa ser acessível todo o tipo de pessoas e escrevo com sentimento e com naturalidade. Houve muitas pessoas que ficaram chocadas com a naturalidade que revelei que a Bá falou aos seis meses, mas foi com essa mesmíssima naturalidade que revelei que o meu filho tinha autismo. Da primeira, não me estava a gabar e do segundo não me estava a lamentar, estava apenas a revelar as coisas tal como aconteceram e como são. A Bá tem o espaço dela e desta vez o protagonista do meu é o irmão. A ideia mais do que lamento ou desabafo era partilhar, dizer a quem começasse a passar por uma situação semelhante com a nossa, que não está sozinho, que com amor e união na família tudo se resolve de uma forma ou de outra. Também não sou nenhuma especialista e não queria tornar o meu blogue muro de lamentações, pelo que optei por escrever da mesma forma que sempre escrevi, pequenas partilhas espontâneas de momentos da nossa vivência. Os progressos do Gonçalo, a maravilhosa interação da Bá com o irmão, acho que tento que todos os meus sentimentos passem para a escrita, quer os bons, quer os maus e quem lê, percebe que é uma pessoa real por detrás de cada publicação. Por outro lado, acho importante sensibilizar a sociedade para a diferença de uma forma rigorosa, mas acessível a todos e também com uma pitada de humor. É claro que acho que quer o charme da Bá quer do Gonçalo também ajudam. ( sim sou uma mamã Gansa babada das suas crias). Ai! Se a Bá lê isto, diz logo que vou afogar as pessoas em baba. E já agora uma grande obrigada e um grande beijinho aos que nos seguem e gostam de nos ler.
- Consideras que o teu blog está bem categorizado nos Sapos do Ano? Sem dúvida que sim. Se bem que já me disseram que os meus blogues têm também uma forte vertente educacional, eu não os ver nessa categoria. É para mim em toda a sua essência um blogue de família.
- Quem levarias contigo para a ilha de Adão e Eva? Adão e Eva tinham uma Ilha? Não viviam no Paraíso? Ok Uma Ilha paradisíaca seja. Acham que eu iria aguentar muito tempo sem ter alguém para me pôr os cabelos em pé? Claro que levava a família toda. Mas como eu e o pai apesar de não sermos muito empachado somos um apouco urbanos, dava jeito ter por perto o Mac Giver da minha Geração em caso de emergência, tirava-nos de lá.
E ainda deixou-nos uma mensagem:
Pediram-me que escrevesse um texto sobre um tema á minha escolha e como por vários motivos estou a escrevê-lo na noite de Haloween, apeteceu-me escrever sobre magia.
Magia sim. Porque acredito em magia, não naquela dos ilusionistas nem truques mágicos do nosso Luis de Matos, sem lhe querer tirar o mérito. Mas não é dessa magia que quero falar.
A magia de que falo é uma mais subtil que existe no nosso dia a dia e nem nos apercebemos. Tenho tantos motivos para acreditar em magia. Um dia quando era pequena aprendi a magia de juntar as letras e de repente descobri a magia da leitura e da escrita e descobri o mundo mágico das letras e da imaginação.
Depois cresci e passei por aquela fase em que ser muito crescida é não acreditar em magia e tentar encontrar uma explicação racional para tudo. Depois cresci um pouco mais e descobri que às vezes a explicação estava mesmo na magia?
Como explicar que vemos uma pessoa uma vez e a partir da segunda vez ficamos juntos e continuamos. Magia é dizer que se tivesse uma menina adorava que se chamasse Bárbara e dias depois descobrir que estava grávida e uns meses depois saber que era de uma menina. Magia é sentir uma nova vida a nascer dentro de nós. Estou aqui pensar num certo companheiro de blogues que ao ler este texto dirá isso é Biologia. Biologia que seja, mesmo assim para mim não deixa de ser magia. Magia é ter um corpo que garante a vida de outro.
Magia é ver um ser pequeno e indefeso aos poucos conquistar-nos e tornar-se o nosso mundo e ver esse ser crescer ganhar asas. Magia é ver esse ser tornar-se o nosso braço direito. E então quando menos esperamos a magia acontece de novo, apesar de tão desejado, tão planeado, tão amado, a entrada de um novo elemento na nossa família.
E de repente quando as nuvens negras de uma tempestade de tristeza e os trovões da revolta perante uma reviravolta de 180 graus na vida nossa família a ameaçam , é mesmo o que nos parece a ameaça que se transforma em magia e mesmo com todos os seus problemas, num jeitinho tão único, tão especial tão mágico, simplesmente com um sorriso, dissipa as nuvens, afasta a Tempestade, e os trovões e de uma forma que nunca imaginei e a família une-se. Juntos somos mais fortes e num toque de magia somos todos por um e u por todos. (Aprendi com os três Mosqueteiros ok? O Dartacão veio depois.)
Magia sim.
Porque o amor é uma forma de magia, e uma muito poderosa.
A magia existe: deixem-na entrar nas vossas vidas.
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